Imagem do cabeçalho: "O Grande Canal de Veneza" (detalhe) de Turner

sábado, 6 de julho de 2013

ABECEDÁRIO (t)



“T”, DE TÊMPERA

As cariátides que sustentam
A arquitrave noturna -
Anteparo do sol - me apavoram:
Não são as lisas colunas por onde correm
Filetes da luz morna do sono,
São instáveis, postadas viúvas
Do serralho de Cronos.

Elas têm caras negativas
De estrelas escuras,
Olhos vedados com betume
Que mesmo vazados
Não cuspiriam lume.
Seus dentes são de basalto:
Frontispício de gargalhadas sinistras.
Os cabelos, um leque farto de verrumas
Espetadas para o alto.

Elas sabem que o sol nunca é deposto,
E avançam para o portal da minha insônia,
Desertando de seus postos:
E a laje do firmamento fica a flutuar a custo...
Pavor! Não posso dormir sabendo
Que a estabilidade do universo
Depende agora do socorro dos meus músculos.


Anselm Kiefer, Jericho

3 comentários:

Tania regina Contreiras disse...


Fantástico, Marquinho. Esse final...Nossa, seu estilo é inconfundível e marcante. Fã sempre.

Beijos,

cirandeira disse...

Quem sabe, um dia, quando os palácios desmoronarem, e dos seus escombros brotarem plantas...!?

Beijo, Marcantonio, "sumido"!?

Átila Goyaz disse...

haja construção para um belo poema.